Era como se sua capacidade intelectual tivesse se dissipado. Tereza não conseguia trabalhar nem fazer outra coisa. Tentou ler e nas linhas não encontrava nada que se parecesse com o lógico; qualquer música a irritava. A voz do filho a ensurdecia. Não se importava com o âncora do jornal.

Conversava com uma amiga e embaralhou os acontecimentos de uma história recente.

No telefone com sua mãe, mudou um ditado popular, mas foi traduzida e explicada. A mãe explicou o que ela tinha tentado dar sentido.

Os sentidos estavam vazios.

Ela, que encontrava significado em qualquer gaveta de talheres e achava cronologia em qualquer relato que escutava, mesmo os mais confusos.

Cozinhou errado, coisa rara de acontecer à Tereza que intuitivamente criava métodos, receitas, tirava de ordem e acertava o ponto.

Comentou com o marido que a massa encefálica estava grande, inchada. Ele entendeu.

No dia seguinte, brigou com ele sem vontade de brigar e depois de se sentir sozinha nessa briga infundada, chorou por dez minutos. Depois se sentiu boba e chata e chorou por mais sete. Daí tomou um banho e se sentiu melhor por umas duas horas.

Não, Tereza não cronometrou o tempo de soluços e alívios, foi uma percepção que, naquele estado estranho em que se encontrava, pode (e deve) estar equivocada. Pode ser que tenha chorado por poucos segundos, talvez mesmo por alguns dias.

***

Já fazia muito tempo que notara que não sabia se dar tempo.

Trabalho, filhos, cuecas do marido, casa suja, conta que chega, corpo que cresce, tristeza que aumenta. O preço do arroz. Noite interrompida. Dia cortado pelo sono. Notícia ruim, novidades que não existem.

Também notava que não sabia chorar e sem querer trancafiava lágrimas para não dar chance de começar.

Mas lágrimas represadas saem à fórceps em momentos que não se espera e aí chorou guardando portes, digitando um e-mail, trocando a fralda e nas legendas finais de um filme lindo que, quando me contou, já nem lembrava mais a história.

***

Pendurou a roupa no varal do quintal e viu um pedaço de telha e um outro pedaço grande de céu. Cinza e úmido. Nesse instante, estava quieta e infinita. Se viu no agora. Mas olhar para cima não durou muito porque ali percebeu que nutre um grande medo do depois.  

Eduarda e Mônica

A velha e o frio

Verônica e Odila

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