Vasculho alguma coisa para fazer. Um dia atípico para um meio de semana, a vida acontecendo sem pressa desde às seis da manhã. 
A pia está vazia, o quintal está limpo, as roupas ocupam todo o varal e mesmo que eu quisesse botar mais uma máquina para funcionar, não haveria espaço para secar qualquer pano. 
Cochilei depois das três da tarde e passei um café às 17h. 
Mesmo que eu saiba que vivo em ciclo, que não funciono igual todo dia, que eu não acompanho sempre a cronologia, que às vezes sou do improviso, mesmo que eu veja na agenda que tem trabalho às 20h, mesmo assim, deixar as horas sobrarem é difícil. 
Queria ficar parada, olhando, ouvindo sem culpa. 
Já reparou nos barulhos do fim da tarde? As janelas se fecham, as ferramentas da obra se recolhem, barulho de saltos passam na calçada, tem carro apressado para chegar em casa, um vizinho grita pro filho que tem pão com manteiga na mesa, tem criança saindo da escola.  
Me queixo que desacelerar por dentro é raro, caço preocupações e não encontrá-las dá sempre a impressão de que num golpe de susto perceberei a merda que fiz. 
A conta que não foi paga, a geladeira que ficou aberta, o compromisso que esqueci, o trabalho que não terminei, as notícias que não li e todo o mundo que me passou rápido, veloz, tumultuado e eu, num cochilo fora do previsto, perdi. 
E se eu perder, o que vai acontecer?
Se eu sossegar, se eu dormir, se eu fizer uma tarefa de cada vez. Se eu prestar atenção. Se eu desligar o celular. Se eu deixar as redes pra lá. E se as redes falharem, pifarem, saírem do ar. Se ao invés de ler o jornal, eu achar um gibi. 
Se ao invés de ficar exausta, eu assistisse um filme velho, deitasse no chão, batesse um bolo, passasse horas no telefone com alguém. 
Fazer nada é encarar um silêncio alto demais. E o que é que tem nesse vão de horas, nesse tempo que passa? 
Qual golpe vai chegar? Que susto vou tomar? 
Que merda vou descobrir que fiz ou ainda, o que eu quis muito fazer e desisti? 
E de novo vejo a pia vazia, o quintal limpo, as roupas no varal. O céu vai escurecendo e mesmo que eu ache que sou máquina, talvez com sorte perceba que se eu ficar ligada, não haverá espaço sequer para criar, quem dirá viver. 

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