Há alguns anos escrevi sobre um domingo. Naquela época eu morava em um lugar muito distante e dentro de um condomínio. De lá, mudei de cidade e fui para um apartamento pra uma região mais central de São Paulo. E agora aqui, num bairro tranquilo onde tem macaco em árvores e postes e gente passeando nas ruas. Em todos esses lugares, a leitura das manhãs era diferente, mas com um fundo, um quê, uma coisa difícil de traduzir, sempre igual.
Hoje, voltando para a casa depois da caminhada diária com a minha cachorra, vi e reparei em tantas coisas que fiquei cheia de ideais e vontades, inclusive de ter uma papelaria. Na porta, perguntei amor, existe algum outro momento da semana tão bonito quanto uma manhã de domingo? e ele me respondeu que não. Domingo lembra almoço de família, mesmo quando não tem. Dá vontade de pular na piscina, mesmo se tiver frio. É lentidão e saudade de alguma coisa, mesmo quando passa rápido, mesmo se a saudade vier acompanhada de um pouco de tristeza.
E ele, o Renato, botou reparo numa coisa que para ele é especial: sol lavando um domingo depois de uma semana tão cinzenta e fria que, até eu que gosto disso, estava ficando chateada. O que a mudança traz, o que o tempo faz, como é acompanhar um ritmo ou sair dele. O tempo e o que eu faço dele, o que eu faço comigo enquanto ele corre, isso tudo tem sido presente nos meus pensamentos. A manhã do domingo me dá a sensação de boiar num mar tranquilo, de balançar numa rede, de ver o tempo passar e não querer saber da cronologia.
Fui procurar o texto daquele passado e minha surpresa foi encontrar uma outra escritora, uma menina ainda, talvez mais apavorada em viver. Agora o domingo me soa mais manso, mais meu ainda, mais silencioso que sempre. O que ficou de mim, para além dos detalhes que atraem meus olhos, foi a frase final: se eu pudesse engolir o domingo, eu engoliria.
Estou com a boca aberta tentando fazer isso agora.